«Inventar está muito bem, mas que seja alguma coisa que mereça a pena»
“História do cerco de Lisboa”
«Inventar está muito bem, mas que seja alguma coisa que mereça a pena»
“História do cerco de Lisboa”
«não há diferença nenhuma entre cem homens e cem formigas, leva-se isto daqui para ali porque as forças não dão para mais, e depois vem outro homem que transportará a carga até à próxima formiga, até que, como de costume, tudo termina num buraco, no caso das formigas lugar de vida, no caso dos homens lugar de morte, como se vê não há diferença nenhuma»
“Memorial do Convento”
«Não me leves a mal, Francisco, se te faltei. Foste pedir a pobres o que pobres não podem fazer: acabar com os ricos. Se tal fosse possível, crê que já estaria feito. Desde que o mundo é mundo que há pobreza e há riqueza. É certo que de vez em quando um pobre torna-se rico. Quando isso acontece, e é uma coisa que os ricos gostam que aconteça, o pobre esquece a pobreza. Nunca reparaste? Evidentemente, este rico não se esquece de que foi pobre, mas a pobreza deixou de existir para ele. Mesmo que a sua riqueza seja uma pobre riqueza, insignificante se comparada com outras, não importa, ele já é rico, pertence aos ricos, os ricos pertencem-lhe.»
“A segunda vida de Francisco de Assis”
«(...) As ideias que fazemos (...) da própria
ideia são, apenas, imperfeitas compreensões do que deverá ser a verdade, se é
que, por fim, a verdade não é totalmente diferente. (...) O que nos vale (...)
é a impossibilidade do conhecimento absoluto, e então contentamo-nos com
simples aparências, de que tecemos a vida inteira.»
“Terra do Pecado”
“Terra do Pecado”
«Não sei o que mais une, se as grandes catástrofes, se as grandes alegrias. As catástrofes são boa maré para que venha ao de cima o instinto de conservação, o egoísmo instintivo. (As alegrias, se atentarmos bem, também têm os seus pecados.) Mas ao menos, depois das catástrofes, quando nos encontramos à luz do dia, mal refeitos do pavor, talvez envergonhados das fugas dementadas, da ferocidade do «salve-se quem puder» — pomos os olhos uns nos outros encontramo-nos iguais, um pouco irmãos e amigos.»
crónica “Cismando no sismo”. IN “Deste
Mundo e do Outro”
“Que farei com este
livro?”
Para o dia de S. Valentim
«Gostar
é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de
gostar,»
“O conto da ilha desconhecida”
"A Caverna"
«Por fim as nuvens desapareceram. A noite vinha devagar entre as oliveiras. Os animais faziam aqueles ruídos que parecem uma interminável conversa. Meu tio, à frente, assobiava devagarinho. Por causa de tudo isto me veio uma grande vontade de chorar. Ninguém me via, e eu via o mundo todo. Foi então que jurei a mim mesmo não morrer nunca.»
“A Bagagem do Viajante”
«Nem tudo foi tão sórdido neste país em que não se morre como o que acabou de ser relatado, nem todas as parcelas de uma sociedade dividida entra a esperança de viver sempre e o temor de não morrer nunca conseguiu a voraz máfia cravar as suas garras aduncas, corrompendo almas, submetendo corpos, emporcalhando o pouco que ainda restava dos bons princípios de antanho, quando um sobrescrito que trouxesse dentro algo que cheirasse a suborno era no mesmo instante devolvido à procedência, levando uma resposta firme e clara, algo assim como, Compre brinquedos para os seus filhos com esse dinheiro, ou, Deve ter-se equivocado no destinatário. A dignidade era então uma forma de altivez ao alcance de todas as classes.»
“As intermitências da morte”
«As histórias para crianças devem ser escritas com
palavras muito simples… Quem me dera saber escrever essas histórias…»
“A maior flor do mundo”
«Ah, povo conservado na banha ou no mel da ignorância, que nunca te faltaram
ofensores.»
“Levantado
do chão”
«- qualquer regime (posicionamento ou comportamento individual, também)
fascista - é igual ao tubarão: dispõe de fileiras sucessivas de dentaduras, e
sempre que nelas um dente se parte ou gasta, outro dente, fresco e afiado,
avança a ocupar o lugar... Como é fácil concluir, o único remédio consistiria
em matar o tubarão ou amordaçá-lo definitivamente. A tarefa tem sido dura, dado
que o animal estrebucha muito, desfere dentadas a torto e a direito – e nunca
está no mesmo sítio»
crónica “Uma nova provocação”, datada de 20 de Maio de 1975 e publicada em "Os apontamentos", p. 225