«Eu podia ter, também, sucumbido a um
golpe semelhante ao que tu sofreste, podia passar a minha existência inundado
de pensamentos inúteis, lembrando a minha mulher falecida. Não o fiz, porém.
Resolvi viver. Resolvi deixar a minha morta em paz, pensar nela com uma saudade
vaga e, apenas um pouco triste, dedicar um breve espaço da minha vida à
amargura de a haver perdido. Ao princípio, custou-me. A felicidade é tão
absorvente, habituamo-nos tanto a ela que, quando nos foge, quando no-la
roubam, sentimo-nos incompletos como se uma parte essencial do nosso corpo
tivesse desaparecido, deixando uma chaga imensa e dolorosa, que não fecha e
destila sempre o pus da nossa desventura. Mas como tudo isto é vão, Maria
Leonor! Como nós complicamos a extraordinária simplicidade da vida!»
“Terra do Pecado”
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