“Surpreendem-me as palavras e o seu poder de criar realidades; sou um filho das palavras porque, enquanto chileno, descendendo dos índios araucanos, dos primeiros habitantes do meu país, que, embora não possuíssem a escrita, em sua vez tinham um desmedido amor pela oralidade, pelas palavras que, nas noites austrais, usavam ordenadamente para relatarem os acontecimentos do da, para falarem da vida e da morte, da esperança e dos sonhos, e assim, à força de empregar as palavras, faziam com que tudo ganhasse vida e fosse real.
(..)
Escrevi muitos livros e em todos eles se encontram as invencíveis palavras fundadoras do mundo possível e fraterno em que acredito. Escrevo no papel e nas paredes PÃO, PAZ, TRABALHO, JUSTIÇA e LIBERDADE, essas cinco palavras que encerram toda a humana universalidade da literatura.”
[LUIS SEPÚLVEDA, “Literatura e universalidade humana”, in, ‘O Poder dos Sonhos’, 2006]
Ontem foi um dia triste, morreu Luís Sepúlveda, vítima de Covid19.
Gravou a sua última entrevista em Portugal, juntamente com Cármen Yáñez e, sua esposa e poeta. Nas Correntes d`Escritas , na Póvoa do varzim, em fevereiro passado, falaram com a jornalista Ana Daniela Soares sobre as suas vidas , as suas obras e a sua história de amor e de resistência.
No mundo e também no seu país de origem , o Chile, Luis Sepúlveda era muito amado e admirado. Quem não leu o livro "História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar"?
"- Fui apanhada por uma maré negra. A peste negra. A maldição dos mares. Vou morrer - grasnou a gaivota num queixume.
- Morrer? Não digas isso. Estás cansada e suja. Só isso. Porque é que não voas até ao jardim zoológico? Não é longe daqui e lá há veterinários que te poderão ajudar - miou Zorbas.
- Não posso. Foi o meu voo final - grasnou a gaivota numa voz quase inaudível, e fechou os olhos.
- Não morras! Descansa um bocado e verás que recuperas. Tens fome? Trago-te um pouco da minha comida, mas não morras - pediu Zorbas, aproximando-se da desfalecida gaivota."
- Morrer? Não digas isso. Estás cansada e suja. Só isso. Porque é que não voas até ao jardim zoológico? Não é longe daqui e lá há veterinários que te poderão ajudar - miou Zorbas.
- Não posso. Foi o meu voo final - grasnou a gaivota numa voz quase inaudível, e fechou os olhos.
- Não morras! Descansa um bocado e verás que recuperas. Tens fome? Trago-te um pouco da minha comida, mas não morras - pediu Zorbas, aproximando-se da desfalecida gaivota."
[LUIS SEPÚLVEDA, ‘História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar’
Como se percebe, este excerto corresponde ao momento inicial em que a gaivota, coberta de óleo derramado por um petroleiro, aterra na varanda de um prédio onde o gato Zorbas, surpreendido, receberá uma difícil tarefa.
Como se percebe, este excerto corresponde ao momento inicial em que a gaivota, coberta de óleo derramado por um petroleiro, aterra na varanda de um prédio onde o gato Zorbas, surpreendido, receberá uma difícil tarefa.
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