26 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 42

 

«Há de o homem esforçar-se sempre, para que esse seu nome de homem mereça, mas é menos senhor da sua pessoa e destino do que julga, o tempo, não o seu, o fará crescer ou apagar, por outros merecimentos algumas vezes, ou diferentemente julgados, Que serás quando fores de noite e ao fim da estrada»

 

“O Ano da Morte de Ricardo Reis”

25 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 41

«Há, também, o silêncio. O silêncio é, por definição, o que não se ouve. O silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão”.»


Crónica “As palavras”, in “Deste mundo e do outro”

24 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 40

«As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras nos absorvem, não nos deixam: são como garras, vem nos livros, nos jornais, nas mensagens publicitárias, nos rótulos dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, intimidam, impõem, segregam , eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz e em harmonia com suas contrárias e inimigas. Por isso a pessoas fazem o contrário do que pensam julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras.»

Crónica “As palavras”, in “Deste mundo e do outro”

21 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 39

 

 «(…) vejo a humanidade como se fosse o mar. Imaginemos por um momento que estamos numa praia: o mar está ali, e continuamente aproxima-se em ondas sucessivas que chegam à costa. Pois bem, essas ondas, que avançam e não poderiam mover-se sem o mar que está por detrás delas, trazem uma pequena franja de espuma que avança em direção à praia onde vão acabar. Penso, continuando a usar esta metáfora marítima, que somos nós a espuma que é transportada nessa onda, essa onda é impelida pelo mar que é o tempo, todo o tempo que ficou atrás, todo o tempo vivido que nos leva e nos empurra. Convertidos numa apoteose de luz e de cor entre o espaço e o mar, somos, os seres humanos, essa espuma branca brilhante, cintilante, que tem uma breve vida, que despede um breve fulgor, gerações e gerações que se vão sucedendo umas às outras transportadas pelo mar que é o tempo.»


“Da Estátua à Pedra”

20 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 38

 

«Já nessa altura lhe viera à lembrança um conselho do pai, Cuidado, meu filho, uma adulação repetida acabará inevitavelmente por tornar-se insatisfatória, e portanto ferirá como uma ofensa.»

 

A viagem do Elefante”

19 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 37

 

«Cada século teve o seu dinheiro, cada reino o seu homem para o comprar e vender por morabitinos, marcos de ouro e prata, reais, dobras, cruzados, réis e dobrões, e florins de fora. Volátil metal vário, aéreo como o espírito da flor ou do vinho: o dinheiro sobe, só para subir tem asas, não para descer.»

 

“Levantado do Chão”

 

17 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 36


«Para que as coisas existam, duas condições são necessárias, que homem as veja e homem lhes ponha nome.»


“A jangada de pedra”

14 janeiro 2022

13 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES - 34

 

«(...) qualquer um, independentemente das habilitações que tenha, ao menos uma vez na vida, fez ou disse coisas muito acima da sua natureza e condição (...). Cada um de nós sabe infinitamente mais do que julga e cada um dos outros infinitamente mais do que neles aceitamos reconhecer.»

“O ano da morte de Ricardo Reis”

11 janeiro 2022

SARAMAGO, CEM ANOS, CEM CITAÇÕES – 33

«Era lua cheia, daquelas que transformam o mundo em fantasma, quando todas as coisas, as vivas e as inanimadas, estão murmurando misteriosas revelações, porém vai dizendo cada qual a sua, e todas desencontradamente, por isso não alcançamos a entendê-las e sofremos esta angústia de quase ir saber e não ficar sabendo.»

 “História do cerco de Lisboa”